O velho barracão.
Este barracão foi aqui edificado há mais de 25 anos pelo meu pai, tendo por ajuda (se assim se pode chamar) os dois filhos, eu e o meu irmão. As tábuas aqui usadas pertenciam aos caixotes de madeira, que serviram para trazer os parcos haveres do ultramar (Beira - Moçambique) e as telhas e as "chapas" compradas com os parcos tostões "roubados" às despesas correntes da família.
Nessa época este, agora degradado, barraco foi durante algum tempo a nossa "luxuosa" casa de banho. Não havia água canalizada, esgotos só nas cidades e não em todas, e nas aldeias enquanto que de dia se ia "a campo" à noite usava-se o baldinho que pela manhã era imperioso despejar.
No interior ainda hoje está a "sanita" de madeira, que não é mais que uma caixa de madeira invertida com um orifício suficientemente grande para encaixar o rabiosque, e ligação directa para o chão coberto com giestas, fetos e caruma postos em camadas e regularmente substituídos, servindo estes resíduos para engrossar as moreias de estrume que depois de alguns meses a "curtir" (agora chama-se compostar) servia para estrumar as terras e fazer crescer as colheitas.
Era aqui também que tomávamos os duches, usando um balde de alumínio próprio, munido no fundo de uma espécie de crivo (semelhante aos dos actuais regadores) por onde a água se escapava quando puxada a corrente ligada a uma tampa interior através de uma pequena roldana. Muita tecnologia para a época. A água quente era transportada para o local num jarro, e depois de feita a mistura no "chuveiro" com outra mais fria lá tinha inicio o duche. Nos dias mais frios, quando se chegava à parte de tirar o sabão, já a dita estava fria... mas isso são apenas pormenores.
Nessa época este, agora degradado, barraco foi durante algum tempo a nossa "luxuosa" casa de banho. Não havia água canalizada, esgotos só nas cidades e não em todas, e nas aldeias enquanto que de dia se ia "a campo" à noite usava-se o baldinho que pela manhã era imperioso despejar.
No interior ainda hoje está a "sanita" de madeira, que não é mais que uma caixa de madeira invertida com um orifício suficientemente grande para encaixar o rabiosque, e ligação directa para o chão coberto com giestas, fetos e caruma postos em camadas e regularmente substituídos, servindo estes resíduos para engrossar as moreias de estrume que depois de alguns meses a "curtir" (agora chama-se compostar) servia para estrumar as terras e fazer crescer as colheitas.
Era aqui também que tomávamos os duches, usando um balde de alumínio próprio, munido no fundo de uma espécie de crivo (semelhante aos dos actuais regadores) por onde a água se escapava quando puxada a corrente ligada a uma tampa interior através de uma pequena roldana. Muita tecnologia para a época. A água quente era transportada para o local num jarro, e depois de feita a mistura no "chuveiro" com outra mais fria lá tinha inicio o duche. Nos dias mais frios, quando se chegava à parte de tirar o sabão, já a dita estava fria... mas isso são apenas pormenores.
Um belo dia estava aqui o vosso amigo a tomar o seu duche, qual carola de 12 anos, quando começa a trovejar e a chover freneticamente. As contas foram fáceis de fazer: chapas de zinco + proximidade de árvores + balde de alumínio + relâmpagos = fuga para casa
Ora estando a casa a 200 metros do WC, fácil é imaginar um puto em pilau e descalço com uma toalha pela cabeça, a correr que nem um desalmado para atingir a segurança do "ninho".
É por estas e outras histórias que o barracão ainda se vai conservando no local, e também para me lembrar os sacrifícios que alguém fez por mim, para que hoje possa estar sentado confortavelmente à frente de um computador a contar-vos estas peripécias...
Será que o velho barracão ainda terá de voltar a servir de WC? Quem sabe...
Nota – Hoje como ontem há quem tenha um simples WC e quem possua Sauna, Jacuzi, Hidromassagem etc. Há 25 anos também já havia quem tivesse WCs idênticos aos actuais... sempre foi, é e sempre assim será!
10 Comments:
Há coisas na vida que só quem as vive lhes pode dar valor. È evidente que o teu pai não te pôde dar um WC com tudo o que tu possivelmente merecias e tinhas direito, mas deu-te o que pode e possivelmente com muito amor e acredita que esse barracão tem muito mais valor em termos de ligação humana, entre um pai e um filho, do que, um WC com todo o conforto do mundo, contudo que usamos e não usamos, mas sem a carga emocional representada nesse barracão. Tomara que houvesse mais barracões e tudo que eles significam na vida de muita gente.
boas. noos 60 e parte de 70 essa era a situação normal no interior. também tinhamos a nossa retrete externa e o estrume era carregado pela minha mãe para as terras de cultivo. O meu pai , no entanto, (paz à sua alma) a descarga da manhã não perdoava. Vinha cá fora à mata. Tinha outro sabor. E claro depois na mata nasciam tomateiros em abundância.
Por isso é que eu digo. Como é algumas pessoas não conseguem ver que depois de Abril de 74 o país mudou. E mudou para melhor. Como podem sentir saudades de um sistema salazarista?? Não percebo
tem razão o mocho (os mochos são sábios, como toda a gente sabe!!)
Mas ter vivido assim faz-nos dar mais valor ao que temos hoje, coisa que não acontece a quem já nasce com tudo... A minha primeira retrete era ligeiramente mais sofisticada, mas também era cá fora!
LOL CMatos...tambem acho que é de conservar o 'barracão'. Afinal de contas, faz parte da história deste país.
Beijinhos ;-)
Pois é Matos. Como mudámos nestes 30 anos! Muitos nem se dão conta de como era, e de como é.
Mas podíamos, e devíamos, ter mudado muito mais!
Entretanto, conserva o barraco!
Pois é, haverá muitas histórias como esta em todo lado. Com certeza que estas situações eram comuns à 25/35 anos e quem as viveu dá-lhe valor.
De certeza que as suas condições de higiene no ultramar não eram essas que aqui descreve? A sua experiencia deve ter sido mais dramatica porque lá tinha a comodidade que aqui não encontrou.
Pelo menos foi assim que se passou comigo. Porque se passou de uma situação em que se perdeu tudo: hoje tinha essas condições e amanhã viu-se confrontado com esta situação em que faltava quase tudo.
Não sei se conhece este site:
http://www.xirico.com/c_htm/tri/home.php
Abraço.
anónimo, conheço sim esse site, aliás foi nele que revi a minha terra natal (a Beira). Nasci e vivi lá até aos meus 6 anos e nessa altura viviamos nas chamadas metrópoles. Uma modesta mas bela vivenda com jardim, praia à descrição (e que praias), acesso a desportivos e desportos, piscinas etc. E de repente passo a viver num país estranho, que não me quer, numa casinha de quinta muitas vezes partilhada com ratos, cobras e lagartos e onde, quando chovia lá se tinha de espalhar tachos e caldeiros (até em cima das camas) para apanhar as goteiras do velho telhado e a viver da caridade alheia. Mas isso são águas passadas, e hoje guardo gratas recordações desse tempo, e grandes lições de vida.
Um grande abraço a todos os chamados "retornados" e aos (como eu) imigrantes das ex-colónias.
Já tinha falado nisto aqui
bonito apontamento...valorizamos o que nos custa atingir...e o nosso coração fica preso como a um bom par de chinelos confortaveis e gastos...ainda bem q ele está em pé e q tu podes estar sentado no pc...assim fico a saber mais uma pequena e bonita historia de vida. Gostei do teu cantinho. E dos artesanatos e das palmeiras.
Tambem passei por privacoes identicas, depois de uma vinda forcada de Africa, so que eu foi de Angola.
Um abraco fornense.
não pude deixar de rir durante o relato do episódio da banhoca.
mas fica também registada a razão pela qual o barracão ainda existe.
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