Que Saudades!
Esta história começa na década de 50.
Um homem, na busca de uma vida melhor que o Portugal de então teimava em não lhe dar, decide partir, emigrar. Enche uma mala de sonhos, vontade e muito trabalho e ruma a África. O seu “porto” de destino é Moçambique, passa pela capital Maputo (hoje Lourenço Marques) mas estava destinado que iria fixar-se numa cidade cujo nome, curiosamente, deve à Região de Portugal de onde ele é originário, as Beiras. Com a ajuda de familiares e amigos, fixa-se na cidade da Beira e logo começa a trabalhar. Em Portugal fica a sua namorada, que mais tarde decide casar-se… por procuração, como era habitual, sendo o seu sogro a levá-la ao altar. Esse homem agora com a vida estabilizada chama a sua, agora esposa, e após uma longa viagem de barco, dá-se o reencontro. Arranjam casa própria e, consumado o casamento, já nos anos 60, nasce o 1º filho. Também eles ajudam agora irmãos, irmãs e amigos que no seu lar procuram o abrigo e o começo de uma nova vida. 3 Anos mais tarde vem o 2º filho e é nesse preciso momento que… começa a minha história.
A vida na bela cidade decorria sem sobressaltos, a família à minha volta aumentava, chegavam e partiam tios e amigos da “longínqua” guerra, vivia-se numa cidade próspera, onde todos se conheciam e se ajudavam. Eu ao crescer ia amando cada vez mais tudo aquilo, até que… o ano de 75 chegou depressa de mais. E com ele, infelizmente, tudo foi interrompido, tudo acabou. A estabilidade, a segurança, a prosperidade, mais tarde o trabalho, … enfim o Paraíso. De repente dei comigo numa aldeia escura, velha, no Portugal profundo onde quase ninguém conhecia e onde quase ninguém nos queria…
Hoje amo também Santiago de Cassurrães, sinto-me bem em Portugal, mas… quando vejo ou oiço falar do “Esturro”, do “Maquinino”, da “Munhava”, da “Pontagea”, do “cais K” no porto, da “praia das Palmeiras”, do rio “Chiveve”, da "Gorongoza" e de tantos outros lugares que preencheram esses tempos, a minha alma “dispara” e um turbilhão de recordações e memórias, tolda-me a mente lançando nos meus olhos uma torrente de saudade.
Mais tarde contarei aqui, pequenas histórias da minha infância na Beira, para que estas vivam mais tempo e perdurem para além da minha existência, mas por agora queria partilhar convosco isto…
Estas são fotos do antes (nos tempos áureos) e do depois (de 75). Encontrei-as, porque o meu irmão, agora também emigrado, mas partilhando esta saudade pelas “raízes” me enviou algumas imagens para mostrar ao nosso pai (o tal homem). E ao vê-las, deu-se aquele “disparo” que me fez escarafunchar na Net e chegar até estas… e muitas outras.
Eu, tal como a maior parte dos imigrantes e retornados de África, acalento um sonho,… o sonho de LÁ VOLTAR, e agora mais que nunca…
Que SAUDADES!
Nota – Para verem mais, cliquem em http://www.xirico.com/ e se souberam de outros sítios com conteúdo sobre a Beira ou Vila Pery (hoje Chimoio), por favor digam. Obrigado.
Um homem, na busca de uma vida melhor que o Portugal de então teimava em não lhe dar, decide partir, emigrar. Enche uma mala de sonhos, vontade e muito trabalho e ruma a África. O seu “porto” de destino é Moçambique, passa pela capital Maputo (hoje Lourenço Marques) mas estava destinado que iria fixar-se numa cidade cujo nome, curiosamente, deve à Região de Portugal de onde ele é originário, as Beiras. Com a ajuda de familiares e amigos, fixa-se na cidade da Beira e logo começa a trabalhar. Em Portugal fica a sua namorada, que mais tarde decide casar-se… por procuração, como era habitual, sendo o seu sogro a levá-la ao altar. Esse homem agora com a vida estabilizada chama a sua, agora esposa, e após uma longa viagem de barco, dá-se o reencontro. Arranjam casa própria e, consumado o casamento, já nos anos 60, nasce o 1º filho. Também eles ajudam agora irmãos, irmãs e amigos que no seu lar procuram o abrigo e o começo de uma nova vida. 3 Anos mais tarde vem o 2º filho e é nesse preciso momento que… começa a minha história.
A vida na bela cidade decorria sem sobressaltos, a família à minha volta aumentava, chegavam e partiam tios e amigos da “longínqua” guerra, vivia-se numa cidade próspera, onde todos se conheciam e se ajudavam. Eu ao crescer ia amando cada vez mais tudo aquilo, até que… o ano de 75 chegou depressa de mais. E com ele, infelizmente, tudo foi interrompido, tudo acabou. A estabilidade, a segurança, a prosperidade, mais tarde o trabalho, … enfim o Paraíso. De repente dei comigo numa aldeia escura, velha, no Portugal profundo onde quase ninguém conhecia e onde quase ninguém nos queria…
Hoje amo também Santiago de Cassurrães, sinto-me bem em Portugal, mas… quando vejo ou oiço falar do “Esturro”, do “Maquinino”, da “Munhava”, da “Pontagea”, do “cais K” no porto, da “praia das Palmeiras”, do rio “Chiveve”, da "Gorongoza" e de tantos outros lugares que preencheram esses tempos, a minha alma “dispara” e um turbilhão de recordações e memórias, tolda-me a mente lançando nos meus olhos uma torrente de saudade.
Mais tarde contarei aqui, pequenas histórias da minha infância na Beira, para que estas vivam mais tempo e perdurem para além da minha existência, mas por agora queria partilhar convosco isto…
(O Grande Hotel, Antes e Agora)
(A Piscina, Antes e Agora)
Estas são fotos do antes (nos tempos áureos) e do depois (de 75). Encontrei-as, porque o meu irmão, agora também emigrado, mas partilhando esta saudade pelas “raízes” me enviou algumas imagens para mostrar ao nosso pai (o tal homem). E ao vê-las, deu-se aquele “disparo” que me fez escarafunchar na Net e chegar até estas… e muitas outras.
Eu, tal como a maior parte dos imigrantes e retornados de África, acalento um sonho,… o sonho de LÁ VOLTAR, e agora mais que nunca…
Que SAUDADES!
Nota – Para verem mais, cliquem em http://www.xirico.com/ e se souberam de outros sítios com conteúdo sobre a Beira ou Vila Pery (hoje Chimoio), por favor digam. Obrigado.
4 Comments:
Também sou de Moçambique, da Zambézia, embora me identifique mais com o Xai-Xai onde vivi os últimos 6 anos que passei em África. Talvez por não ter passado pelo trauma de muitos "retornados" por me encontar no liceu de Viseu, pela força do destino,no dia 25/04/74, aliado ao facto de ter partido rumo a outro país à procura de uma universidade que estivesse aberta, durante muitos anos África esteve como que adormecida no meu subconsciente. As poucas reuniões de Xai-Xaienses a que fui depressa me cançaram. Só nos unia o passado, o que as tornou repetitivas. Foi um pedido do meu pai para ver na net se ainda existia o hotel do Chongoene que me fez ir ao Google / imagens e... agora, sempre que tenho um pouco de tempo livre, delicio-me a escrever "xai-Xai", ou qualquer outra palavra associada a Moçambique que a minha memória me indique,e quantas têm sido as surpresas!!! As saudades voltaram e penso seriamente em levar a minha filha a visitar as terras de que a mãe pouco fala, mas de que ela tantas histórias conhece através dos avós!
Tantas "istorias" como estas... Embora não me considere um "retornado" porque nunca cá esteve também sou "filho de Africa", os meus pais sim são "retornados". Acho que muitos dos que viveram e nasceram em Africa sentem essa saudade, esse sentimento por uma terra que actualmente já não existe... apenas nas nossas recordações... tempos aureos, esses, tempos de construção de uma nação, tempos em que nos sentimos pertencentes a algo... tempos que nunca mais se esquecem...
Obrigado por me voltar a lembrar, apesar de ainda ser muito pequeno quando saí de Moçambique. Tb penso em voltar um dia. Quem sabe?
Bem, eu sou mesmo daqui (Mangualde-Abrunhosa do Mato), mas conheço muita gente que veio de Angola...deve estar pior, a avaliar pelo tempo que a guerra lá andou...
Imagino a saudade de quem viveu, e que teve de refazer a vida de novo
Não é fácil
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