O meu cantinho!...

Não sou Poeta, não sou Professor, não sou Engenheiro e muito menos Doutor. Sou alguém que aprendeu a ser o que é, porque um dia me disseram que na vida o que realmente importa é ser eu próprio, confiar nos sentimentos e respeitar o que nos rodeia, ...as pessoas e ...o Mundo!

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sexta-feira, janeiro 15, 2010

Notas históricas de Cassurrães

Existia na Igreja Paroquial de Santiago de Cassurrães em tempos idos um Sacrário elaborado em pedra de Ançã, que depois de abandonado e mutilado, crê-se repousar hoje nas dependências da residência paroquial. Sobre este Sacrário, encontrei estes escritos do Dr. Alexandre Alves:

O Sacrário

«O Sacrário, embora mutilado, chegou até aos nossos dias e encontra-se acautelado numa das dependências da residência paroquial. Dele dissemos, no «Not. Da Beira» de Mangualde, (nº 673), em Junho de 1957:
«No cemitério velho onde, por muitos anos, jazeu abandonado, magoadamente serviu de alvo às pedradas do rapazio inconsciente. Um dia um bocado, amanhã outro, lentamente se ia esquirolando, destruindo, uma obra que, outrora, com tanto orgulho, adornara a velha Abadia - Obra amorosamente encomendada aos mais famosos canteiros e escultores de então, que eram os artistas de Coimbra, mestres consumados da arte da Renascença.
«Parece um castelinho, todo ele. Duas figuras de anjos como que chamam a atenção para a porta principal da morada do Senhor, sobre a qual adeja a pomba do Espírito Santo, delicadamente trabalhada em baixo relevo – delicadeza só possível em material tão plástico como é aquela pedra da região coimbrã. Duas portas laterais (dando a ilusão de entre abertas) e, dividindo todas, quatro colunazinhas, com os seus capitéis completam o corpo central do sacrário, rematado por um pequeno templo de quatro pórticos de volta inteira separados por colunas. Pináculos, guaritas e contrafortes aformoseiam o conjunto a que falta, não haja dúvidas, uma imagem (a) que repousaria sobre o templete.
Também, tudo leva a crer que este sacrário não seja obra isolada, completa em si mesma, mas antes o motivo central de algum retábulo... A nossa crença nasce e fortifica-se pelo estudo comparativo de obras semelhantes, desta época, e que adiante mencionaremos.
«O sacrário da Abadia de Santiago é uma obra tipicamente, inconfundivelmente coimbrã. A vinda de artistas franceses para Portugal - João de Ypres e Olivério de Gand, Chanterene, João de Ruão, Jacques Buxe e outros foi um facto capital que domina não só a arte de Coimbra no séc. XVI, mas a história do Renascimento em Portugal e abre um novo ciclo à influência francesa na nossa arte. Uma série de retábulos, túmulos e portais, muitos deles datados, permitem seguir no Museu de Machado de Castro e nos arredores de Coimbra (Celas, Tentúgal, Montemor, S. Silvestre, S. Marcos, Varziela, Cantanhede, e até mais longe, na Trofa, Óbidos, Góis, Guarda, etc.) a evolução da escultura coimbrã».
«Também a este cantinho idílico do concelho de Mangualde chegou (talvez por encargo de algum abade culto) o eco famoso dos imaginários da cidade do Mondego.
«Assim, esta obra lamentavelmente mutilada, tem semelhanças com o sacrário do Sacramento da Sé Velha de Coimbra, atribuído a Tomé Velho, discípulo de João de Ruão; manifesta intimas afinidades com o retábulo da capela-mor da igreja de S. Marcos, nas proximidades de Coimbra, «uma das mais representativas obras de escultura da Renascença francesa, devida a Nicolau de Chanterene – artista que colaborou nas obras do Mosteiro dos Jerónimos» (1.º quartel do séc. XVI); ainda mais flagrantemente parecido com o sacrário do retábulo da Igreja matriz de Águeda: «um retábulo na capela do Sacramento, com o sacrário em forma de castelinho com suas amuradas, na parte central; aos lados, figuras de anjos esculpidos na pedra» … e para rematar, diremos que em «O Primeiro de Janeiro» de 19 de Junho findo, na Secção «Das Arte das Letras», deparámos com uma notícia acerca do Museu Municipal de Pinhel, ilustrada com a fotografia dum retábulo renascentista, que tem, como motivo central, um sacrário gritantemente, aparentado, quase igual ao de Santiago.
»

In Família Paroquial de Santiago de Cassurrães, nº 48 pág. 2 de 1961 por Alexandre Alves

Notas Pessoais

(a) – Em escritos posteriores, que relatam obras na Igreja, existe uma descrição menos pormenorizada deste sacrário, mas é dito que sobre o templete repousava uma imagem de S. Pedro. «… um belo retábulo Renascentista de pedra de Ançã. O motivo principal deste retábulo é um Sacrário. Encontra-se a meio, encimado por um templete, rematado pela imagem de S. Pedro...»

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