Notas históricas de Cassurrães
«A minha capela das Almas deixo a esta freguesia e por fabricários dela aos mordomos do Santíssimo Sacramento e ao Abade que for desta Igreja e ao Reitor da Irmandade (do Menino Deus), para que me mandem dizer 40 missas cada um ano; e para isso lhe deixo 100.000 reis, que se porão à razão de juro, e dos rendimentos me dirão as ditas missas; e o que sobejar para a fábrica dela. E desta fábrica se pagarão aos Rev.dos Visitadores 200 reis, para a "visitar todos os anos»
(…)
O retábulo da capela das Almas - tal como o de S. Lourenço que lhe fica em frente - é um típico exemplar da arte dos finais de seiscentos e, pelo seu impressionante realismo, um bom documento para o estudo dos costumes da época. Emoldurado pela folhagem de acanto que acompanha o arco, é um baixo relevo em madeira, policromado, representando o Purgatório, de cujas chamas avermelhadas figuras aladas, angelicais, vão retirando piedosamente, os corpos nus dos padecentes, homens e mulheres, clérigos e burgueses. De um lado, o Arcanjo S. Miguel, de balança em punho e revestido de elmo e armadura reluzentes, está atento à Justiça Divina. Dominando toda a cena, uma imagem, em vulto, de Cristo Crucificado, que é talvez, a mais formosa de todas as imagens desta Igreja.
A capela de St.ª Ana, ficava dentro do arco ocupado hoje pelo Presépio, e a imagem respectiva está no antigo altar da Senhora do Rosário - este, por sua vez, desviado também da primitiva invocação. A imagem da Senhora do Rosário é de pedra e foi levada, já há anos, para o Seminário Menor de Fornos de Algodres, onde ainda deve encontrar-se. O lugar de Nossa Senhora está ocupado por Santa Bárbara, ladeada por St.º Inácio de Loiola e Santa Ana - três esculturas do séc. XVIII, de Certo merecimento.
(...)
A capela de S. Lourenço e St.ª Petronilha - era esta a primitiva invocação - foi mandada fazer pelo P. Lourenço do Amaral, Prolonotário Apostólico, e por sua irmã Petronilha Marques de Gouveia, viúva de Manuel Cardoso do Amaral, no ano de 1676. Foi a cabeça do Morgado de S. Lourenço instituído em 1681, e da capela se fez, num tombo de Julho de 1716, a descrição seguinte:
«A Capela do Protomártir S. Lourenço está metida no Corpo da Igreja de Santiago, na parede, à parte da Epístola, abaixo da porta travessa da dita Igreja, em arco de pedra liso; dentro da dita capela está um retábulo de pau entalhado, muito bem dourado, com Santuário dos 12 Apóstolos e Ascenção do Senhor, tudo com bom primor e arte; no meio do retábulo está o Protomártir S. Lourenço, em vulto, estofado de ouro, bem proporcionado, em a peanha entalhada. Tem 4 palmos de alto. A capela, no lastro, tem 12 palmos de vão. Entre a mesma capela e a porta travessa da Igreja, está uma pedra entalhada em a parede, de 2 palmos e meio em quadro, com o letreiro seguinte: ESTA CAPELA MANDOU FAZER O PADRE LOURENÇO DE AMARAL, PROTONOTÁRIO APOSTÓLICO, ERA DE 1676. No estrado, diante do altar, está uma sepultura com sua campa de pedra, com as armas dos Amarais, e nela foi enterrado o primeiro instituidor e mais algumas pessoas da sua linhagem» (12).
O retábulo da capela de S. Lourenço, por ter sido repintado, perdeu a majestade que, certamente, lhe daria o brilho discreto do ouro antigo. Na descrição atrás, não se falou no brazão dos Amarais - com as seis luas em campo azul, o elmo e o paquile bem lavrados e policromados - que ainda hoje se vê colocado no meio do arco. Em compensação, com a obra da pavimentação da Igreja, desapareceu a campa do fundador, bem como todas as outras sepulturas antigas.»
(12) «Tombo de 6 Morgados». Manuscrito do Palácio Anadia, de Mangualde.
Aqui termina esta série de documentos sobre concretamente a Igreja Paroquial de Santiago, muito embora, algumas coisas tivessem ficado de fora, como por exemplo o caso de um sacrário feito em pedra de ançã, ricamente trabalhado, com semelhanças ao sacrário do Sacramento da Sé Velha de Coimbra, que andou meio perdido no cemitério velho, tendo sido mutilado, e que, depois de algumas peripécias terá dado entrada no Museu Municipal de Pinhel "pelo menos um gritantemente aparentado (quase) igual ao de Santiago". Destes textos podemos também concluir que ao longo dos tempos o seu património tem vindo a ser desbaratado: Os quadros originais do Senhor da Cana Verde e do Senhor amarrado à coluna, foram para o Museu Grão Vasco, a imagem da Senhora do Rosário em Pedra para o Seminário Menor de Fornos de Algores, e também uns outros quadros que segundo os textos existiriam no tecto do Altar Mor e cujo destino final é desconhecido. Graças a Deus que o Pároco Actual, com bastante sensibilidade para estas coisas, tem sabido manter e restaurar as riquezas que ainda assim conseguiram chegar até aos nossos dias.
Outras Notas Históricas versando outros assuntos, continuarão a aparecer por aqui...
Nota Rectificativa: Segundo informações do Dr. Pedro Pina Nóbrega, o sacrário que está no Museu de Pinhel não é o de Santiago, pensa-se que o nosso esteja guardado na Abadia de Santiago... mas sobre este Sacrário, voltarei a falar dando mais pormenores.
Etiquetas: Divulgação, História, Informação, Património
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