O meu cantinho!...

Não sou Poeta, não sou Professor, não sou Engenheiro e muito menos Doutor. Sou alguém que aprendeu a ser o que é, porque um dia me disseram que na vida o que realmente importa é ser eu próprio, confiar nos sentimentos e respeitar o que nos rodeia, ...as pessoas e ...o Mundo!

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sábado, setembro 19, 2009

Senhora de Cervães

Foto CMatos
A 13 de Setembro decorreu mais uma festividade em honra de Nossa Senhora de Cervães, este ano com direito a transmissão televisiva pela TVI, o que permitiu aos filhos desta terra espalhados pelos 4 cantos do mundo, viverem mais de perto esta celebração.
O mesmo não acontecia nos idos anos de 1960, em que a saudade de quem não podia estar presente batia fundo e pouco mais restava que escrever o que lhes ia na alma. E como as palavras de então são ainda hoje muito actuais, aqui deixo um escrito do Sr. José de Almeida que em Setembro de 1960, a partir de Lourenço Marques, capital de Moçambique, país que me viu nascer, fez publicar no jornal “Família Paroquial” de Santiago de Cassurrães… começava assim:

«Desfolhei com devoção um malmequer. Ao desfolhá-lo 3 coisas pedi a Nossa Senhora de Cervães. Das 3 a mais significativa foi: “Deixai Senhora que possa voltar a ajoelhar nos degraus do Vosso Altar”.»

E depois continuava:

«Das muitas peregrinações que o povo português faz aos santuários, a mais familiarizada na Freguesia de S. Tiago de Cassurrães é, sem dúvida, a peregrinação à Ermida de Nossa Senhora de Cervães.
Nossa Senhora que do alto da colina cobre com o seu manto os 2.400 habitantes da Freguesia, cobre também com a mesma caridade, os que por dever ou necessidade longe se encontram. (…) Desfolhei o malmequer que, ao cair a última pétala, me deixou cônscio de ter na Virgem Nossa Senhora, uma Mãe e uma Protectora.
(…)
Conhecida já no tempo de outros povos que habitaram a Península Ibérica, daí nos vem uma lenda que levou Cervães a tornar-se conhecida por quantos se interessam pelo culto à Virgem.
Por Cervães passaram gerações que mantiveram em festa, durante semanas, este lindo monte, que hoje tão esquecido anda. Linda paisagem nos atrai e deleita. Toda a encosta Norte da Serra da Estrela, da Guarda a Coimbra, os nossos olhos enfeitiça e à nossa alma sorri como a alma dos anjos.
Já muito antes da edificação da actual ermida de Nossa Senhora de Cervães, uma outra de lendas em que não falta a moura encantada, nos conta a história da Santa, aparecida em Cervães e que fora roubada. Ao darem pela sua falta, a moura guiou os devotos que A foram encontrar escondida em terras áridas, situadas a nascente da Póvoa de Cervães, a caminho de Nossa Senhora dos Verdes.
Readquirida pelos devotos da Freguesia de S. Tiago, em peregrinação a levaram a Cervães, onde então o povo numa prece de carinho e fé, cantando e rezando, ficava dias e noites a guardar a Senhora que, numa visão, confiou a sua vontade – “Desejava ficar exposta ao ar, fora da capelinha”.
O voto foi cumprido. A capelinha se ergueu e veio até a edificação da actual Ermida, podendo nesta ver-se no frontal um nicho, exposta ao Sol e à chuva, uma Imagem de Nossa Senhora que a todos dá luz e graça. Está esta Ermida enquadrada no coração da Freguesia, tendo a seus pés as onze povoações que contempla na Sua Magestade de Rainha.
Nossa Senhora de Cervães é para uns farol do bem e manto de orfandade. Para outros e para mim, é confiança segura e íntima. Foi assim que desfolhei o malmequer e este não me enganou.
A última pétala ácida disse-me que hei-de voltar a ajoelhar nos degraus do Seu altar, esperança verdejante da minha vontade cheia de alegria.
Lourenço Marques, Setembro de 1960. José de Almeida»


Foto CMatosNão sei se o Senhor José pôde cumprir esta vontade, de regressar para junto da sua/nossa Senhora. Certo é que Ela o terá protegido, como o faz a todos quantos Nela confiam. Do alto da sua colina “sagrada” a Senhora de Cervães continua a estender o seu manto protector sobre estas terras e suas gentes…

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