A Ilha das Trevas (II)
PARTE II
«Fez-se um súbito silêncio. Senti a Isabelinha debaixo do meu braço, soluçando baixinho, e ouvi gemidos a erguerem-se da montanha de corpos que nos rodeava. Mas a minha mãe estava claramente morta. Como me encontrava deitado, não conseguia ver o que se passava à minha volta. Ouvi tiros isolados e os gemidos pararam. A Isabelinha tremia encostada a mim e isso deve ter despertado a atenção de um nangala. O homem aproximou-se e encostou a M16 à Isabelinha. Entrei em pânico. Percebi que a iam executar e não me contive. Gritei “tolong” em bahasa indonésio e ajoelhei-me aos pés do nangala, pedindo misericórdia. O soldado riu-se. Vi um oficial e gritei-lhe que era amigo do major Mubyarto. O oficial, um capitão, aproximou-se e fez sinal ao soldado de que não disparasse. Isso tranquilizou-me ligeiramente. Expliquei-lhe que eu e a minha filha não éramos de Kraras, tínhamos chegado há alguns dias e não tínhamos nada a ver com o que acontecera. Queríamos era regressar a Díli e expliquei-lhe que eu até pertencera às Hansip e era totalmente a favor da integrasi.
O capitão ficou a olhar para mim e para a Isabelinha, que tremia e soluçava. Claramente, estava a avaliar o caso e preparava-se para tomar uma decisão. Quando finalmente quebrou o silêncio foi para me perguntar se eu era mesmo totalmente a favor da integrasi. Respondi-lhe que sim. Perguntou-me como é que podia provar isso. Respondi-lhe que teria de ser o major Mubyato a testemunhar a meu favor. O capitão disse que não conhecia nenhum major Mubyarto e que, de qualquer modo mesmo que ele existisse não estava ali nesse instante para ser consultado. Pareceu-me óbvio que teria de se aguentar até se conseguir falar com ele, mas não me atrevi a fazer a sugestão, poderia ser considerada uma insolência. O capitão insistiu que precisava de uma prova da minha lealdade para com a Indonésia. Fiquei a olhar para ele, sem perceber bem que prova lhe poderia dar. Perguntou-me se estava disposto a fazer tudo pela integrasi. Claro que lhe disse que sim.
Foi nesse momento que ele me disse que matasse a Isabelinha.»
O capitão ficou a olhar para mim e para a Isabelinha, que tremia e soluçava. Claramente, estava a avaliar o caso e preparava-se para tomar uma decisão. Quando finalmente quebrou o silêncio foi para me perguntar se eu era mesmo totalmente a favor da integrasi. Respondi-lhe que sim. Perguntou-me como é que podia provar isso. Respondi-lhe que teria de ser o major Mubyato a testemunhar a meu favor. O capitão disse que não conhecia nenhum major Mubyarto e que, de qualquer modo mesmo que ele existisse não estava ali nesse instante para ser consultado. Pareceu-me óbvio que teria de se aguentar até se conseguir falar com ele, mas não me atrevi a fazer a sugestão, poderia ser considerada uma insolência. O capitão insistiu que precisava de uma prova da minha lealdade para com a Indonésia. Fiquei a olhar para ele, sem perceber bem que prova lhe poderia dar. Perguntou-me se estava disposto a fazer tudo pela integrasi. Claro que lhe disse que sim.
Foi nesse momento que ele me disse que matasse a Isabelinha.»
(... CONTINUA ...)
Nota - A parte ente « e » é uma transcrição na íntegra das páginas do livro "A Ilha das Trevas" de José Rodrigues dos Santos.
Nota - A parte ente « e » é uma transcrição na íntegra das páginas do livro "A Ilha das Trevas" de José Rodrigues dos Santos.
Etiquetas: Divulgação
2 Comments:
Mais uma sensacional demonstração das grandes emoções transmitidas aos seus leitores pelos livros de José Rodrigues dos Santos.
Estou a ler 666.
Que irá ser deste Planeta? O Homem já não vai a tempo, nem sequer para isso tem força de vontade (que implicava despojar-se de parte do supérfluo da sua vida)de alterar o rumo aos acontecimentos.
Será que é inevitável o que se prevê no livro e nas reportagens televisivas que vemos diariamente?
Um abraço
Anrónio Nunes
Qual é o significado de "nangala" em Timor Leste?
Qual a origem da palavra?
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