O meu cantinho!...

Não sou Poeta, não sou Professor, não sou Engenheiro e muito menos Doutor. Sou alguém que aprendeu a ser o que é, porque um dia me disseram que na vida o que realmente importa é ser eu próprio, confiar nos sentimentos e respeitar o que nos rodeia, ...as pessoas e ...o Mundo!

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segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A Ilha das Trevas (IV)

PARTE IV

«Foi então que a Isabelinha, Deus é minha testemunha, me disse: “Pai, mata-me tu, por favor, mata-me tu!” Olhei para o capitão, ele fez sinal aos nangalas para pararem e depois ficou a olhar para mim, à espera, como quem diz que esta era a última oportunidade, decide-te agora ou nunca. Olhei para a Isabelinha e ela implorava-me com os olhos que fosse eu a pôr fim ao suplício. E então, Deus me ajude e me perdoe, disse ao capitão que sim.
Um nangala aproximou-se com uma pistola, tirou as balas excepto uma, e entregou-ma. Fiquei a olha para a arma, embasbacado, pensando que aquilo não estava a acontecer, não podia acontecer, sentia tudo irreal. A Isabelinha, liberta das mãos dos nangalas, aproximou-se, abraçou-me, beijou-me, desprendeu-se e pôs os bracinhos atrás do seu pescoço, retirando o crucifixo que tu lhe tinhas enviado semanas antes de Lisboa, e estendeu-mo. “Isto é para a mãe”, disse-me. “Entrega-lhe o crucifixo.” Voltou-se de costas, baixou a cabeça e ficou a aguardar. Não queria acreditar na coragem dela. Então, como num sonho, ergui a pistola, apontei para a nuca, fechei os olhos e fiz aquilo que nunca imaginei que alguém obrigasse um ser humano a fazer. Tinha os olhos embaciados de lágrimas e via tudo turvo. Assustei-me com a detonação e dobrei-me sobre mim próprio, de joelhos, quando o acto ficou consumado. Tinha feito o impensável, o indizível, tinha cometido o maior dos pecados, a maior das vergonhas, submetera-me à maldição eterna.»

Este excerto é retirado de uma carta/confissão que Paulino Jesus da Conceição escreve à sua esposa e que acaba assim:

«E, quando me perguntam o que me fez enfrentar todos estes horrores, o que me fez combater, o que me fez resistir, o que me fez sobreviver, respondo sempre que não foi a coragem, nunca se colocou a questão da coragem. O que me fez estar vivo e enfrentar os bapas foi uma coisa imensamente mais simples. Foi o medo.»

Acabo esta série de posts como comecei apelando para que leiam o romance de José Rodrigues dos Santos, “A Ilha das Trevas”. Esta é a história de “Timor Lorosae”, que continua a ser escrita, face aos últimos acontecimentos com os atentados ao Presidente Ramos Horta e a Xanana Gusmão.
Será que por ali não continuarão as forças obscuras da Indonésia agindo a coberto dos supostos rebeldes?

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