4 Primos [3º Capítulo]
Descendo por umas escadinhas ao longo do paredão, depressa chegámos lá ao fundo de onde parte a ribeira que nos acompanhará por mais dois Covões. Atravessamos para a sua margem esquerda, subimos um pouco para logo de seguida descermos através do leito pedregoso da zona de descargas da barragem. Todo este trilho (o T1) está demarcado por pequenos traços de cor avermelhada regular e estrategicamente colocados nas rochas que ladeiam o trilho, no entanto, devido ao clima e à erosão, sítios há em que quase são já imperceptíveis o que tem levado os caminheiros (como nós) a edificarem pequenos marcos de pedras soltas para balizar e tornar mais perceptível o trilho. No entanto as forças da natureza teimam em apagar todas essas marcas, como é o caso da zona agora atravessada, cuja força da água em alturas de degelo tudo apaga e transforma, o que nos leva por vezes a desvios de rota percorrendo trilhos de animais e de pastorícia. Foi o caso.
Ao chegarmos ao Covão da Nave, damos conta que estamos no lado errado da ribeira, ou seja na margem direita, e lá do outro lado aparecem agora as marcas e montículos de pedra. De um lado e de outro erguem-se paredes rochosas altíssimas e a pique, marcadas aqui e acolá por enormes desabamentos que originam grutas e reentrâncias grotescas e assustadoras, fazendo pensar que tudo aquilo pode desmoronar a qualquer momento. Consultado o mapa e as indicações que levávamos, constatamos que a solução era mesmo atravessar a ribeira pondo à prova a (im) permeabilidade das botas de uns e a “técnica do salto” para outros. Já no trilho certo iniciamos uma enorme descida de uns bons 20 metros por entre pedras e cascalho torneando a grande fraga do Padre-Nosso em SS sucessivos, com mil cuidados face a algumas zonas muito escorregadias. Quando por fim chegámos ao último dos 4 Covões, o da Areia, e olhámos para trás é que percebemos o porquê do nome. É que quem faz o trilho no sentido Loriga - Torre, a subir portanto, ao ali chegar bem que pode rezar uns valentes “Padres Nossos” para arranjar coragem.
Este Covão deve o nome precisamente ao facto de estar coberto de areia (bem é mais areão que areia), e nele encontramos alguns cercados feitos com muros de pedra em locais abrigados onde no Verão são encerrados e resguardados os rebanhos durante a noite, outros há que estão já complementados por cercas em rede, e é dos quatro talvez o mais abrigado e quente, marcando o termómetro ali cerca de 7 graus enquanto nos outros variava entre 4 e 6 graus. Passava já das 17:00 e prevíamos que teríamos mais 15 a 20 minutos de luz natural, pelo que se impunha uma decisão: Parar, montar tenda e acampar! … Ou prosseguir até mais abaixo!
Ainda era dia, ainda não tínhamos Loriga à vista e principalmente não havia por ali nenhum abrigo natural para pernoitar que era o nosso desejo apesar de carregados com uma tenda. Entre avanços e recuos, dúvidas e teimosias… prosseguimos. Assim que chegados ao limiar do Covão veio o vento, primeiro fraco tornando-se a cada metro mais e mais poderoso, mas a vista compensava. À esquerda o abismo, à direita uma parede rochosa, à frente um estreito trilho, lá ao fundo ainda longe as primeiras casas de Loriga, para trás cada vez mais longe a segurança do Covão, mas… p’ra frente é que é caminho! Depressa nos apercebemos que seria difícil arranjar um lugar abrigado e seguro, a noite caía impiedosa, o frio aumentava, o vento vinha agora de todas as direcções remoinhando nas escarpas e reentrâncias da serra, mas continuávamos a descer. A Lua atrás de nós já brilhava e o Sol apenas pintava o horizonte de um laranja pesado e carregado havendo pelo meio grossas e negras nuvens, continuávamos a descer e a fazer já planos de uma longa e penosa caminhada noite dentro, até que… o primo que seguia na dianteira parou e apontou para a esquerda a uns bons 30 metros dizendo: Estão a ver ali aqueles grandes penedos com uns buracos escuros? É ali que vamos passar a noite. Tem de ser ali!
Largou ali mesmo a mochila e ofereceu-se para lá ir explorar. Nós, os restantes 3 primos, sentámos ofegantes e ficámos de ouvido colado aos intercomunicadores que levávamos. Ele quase desapareceu na escuridão sendo perceptível apenas através do foco da sua lanterna.
- É mesmo aqui, isto é um duplex, podem descer. Disse por fim.
E lá fomos, algo desconfiados. A meio da descida era já um triplex e pouco depois já tinha 4 assoalhadas. Aquilo prometia. Atravessada uma pequena ribeira chegámos ao Hotel, verdadeiramente espantoso, um conjunto de 3 ou 4 gigantes penedos dispostos de tal forma que possuíam nas suas entranhas vários locais e grutas “habitáveis”. De todas escolhemos uma, mais seca e numa posição superior, com vestígios de ser usada já por pastores e mesmo por ovelhas durante a época de verão. Era comprida, com uma zona já delimitada para fogueira, uma pequena laje de pedra a fazer de mesa e dois pequenos assentos de pedra.
Era noite escura, passava das 18:00 e ali estava ele, o nosso abrigo na montanha. Ia ser uma noite em grande, … e que grande!
Ao chegarmos ao Covão da Nave, damos conta que estamos no lado errado da ribeira, ou seja na margem direita, e lá do outro lado aparecem agora as marcas e montículos de pedra. De um lado e de outro erguem-se paredes rochosas altíssimas e a pique, marcadas aqui e acolá por enormes desabamentos que originam grutas e reentrâncias grotescas e assustadoras, fazendo pensar que tudo aquilo pode desmoronar a qualquer momento. Consultado o mapa e as indicações que levávamos, constatamos que a solução era mesmo atravessar a ribeira pondo à prova a (im) permeabilidade das botas de uns e a “técnica do salto” para outros. Já no trilho certo iniciamos uma enorme descida de uns bons 20 metros por entre pedras e cascalho torneando a grande fraga do Padre-Nosso em SS sucessivos, com mil cuidados face a algumas zonas muito escorregadias. Quando por fim chegámos ao último dos 4 Covões, o da Areia, e olhámos para trás é que percebemos o porquê do nome. É que quem faz o trilho no sentido Loriga - Torre, a subir portanto, ao ali chegar bem que pode rezar uns valentes “Padres Nossos” para arranjar coragem.
Este Covão deve o nome precisamente ao facto de estar coberto de areia (bem é mais areão que areia), e nele encontramos alguns cercados feitos com muros de pedra em locais abrigados onde no Verão são encerrados e resguardados os rebanhos durante a noite, outros há que estão já complementados por cercas em rede, e é dos quatro talvez o mais abrigado e quente, marcando o termómetro ali cerca de 7 graus enquanto nos outros variava entre 4 e 6 graus. Passava já das 17:00 e prevíamos que teríamos mais 15 a 20 minutos de luz natural, pelo que se impunha uma decisão: Parar, montar tenda e acampar! … Ou prosseguir até mais abaixo!
Ainda era dia, ainda não tínhamos Loriga à vista e principalmente não havia por ali nenhum abrigo natural para pernoitar que era o nosso desejo apesar de carregados com uma tenda. Entre avanços e recuos, dúvidas e teimosias… prosseguimos. Assim que chegados ao limiar do Covão veio o vento, primeiro fraco tornando-se a cada metro mais e mais poderoso, mas a vista compensava. À esquerda o abismo, à direita uma parede rochosa, à frente um estreito trilho, lá ao fundo ainda longe as primeiras casas de Loriga, para trás cada vez mais longe a segurança do Covão, mas… p’ra frente é que é caminho! Depressa nos apercebemos que seria difícil arranjar um lugar abrigado e seguro, a noite caía impiedosa, o frio aumentava, o vento vinha agora de todas as direcções remoinhando nas escarpas e reentrâncias da serra, mas continuávamos a descer. A Lua atrás de nós já brilhava e o Sol apenas pintava o horizonte de um laranja pesado e carregado havendo pelo meio grossas e negras nuvens, continuávamos a descer e a fazer já planos de uma longa e penosa caminhada noite dentro, até que… o primo que seguia na dianteira parou e apontou para a esquerda a uns bons 30 metros dizendo: Estão a ver ali aqueles grandes penedos com uns buracos escuros? É ali que vamos passar a noite. Tem de ser ali!
Largou ali mesmo a mochila e ofereceu-se para lá ir explorar. Nós, os restantes 3 primos, sentámos ofegantes e ficámos de ouvido colado aos intercomunicadores que levávamos. Ele quase desapareceu na escuridão sendo perceptível apenas através do foco da sua lanterna.
- É mesmo aqui, isto é um duplex, podem descer. Disse por fim.
E lá fomos, algo desconfiados. A meio da descida era já um triplex e pouco depois já tinha 4 assoalhadas. Aquilo prometia. Atravessada uma pequena ribeira chegámos ao Hotel, verdadeiramente espantoso, um conjunto de 3 ou 4 gigantes penedos dispostos de tal forma que possuíam nas suas entranhas vários locais e grutas “habitáveis”. De todas escolhemos uma, mais seca e numa posição superior, com vestígios de ser usada já por pastores e mesmo por ovelhas durante a época de verão. Era comprida, com uma zona já delimitada para fogueira, uma pequena laje de pedra a fazer de mesa e dois pequenos assentos de pedra.
Era noite escura, passava das 18:00 e ali estava ele, o nosso abrigo na montanha. Ia ser uma noite em grande, … e que grande!
(Continua)
14 Comments:
Ó Matos não conhecia este teu lado Indiana Jones. O rapaz achou "maneiro". Estás a dar idéias ao biólogo.
Abraços no dia de Reis.
Mila Reis.
Que dez este blog! fiquei cheia de inveja, eu que já me acho uma aventureira pq consegui fazer rafting e amei... mas com cavernas, não vou... água sim... montanhas me assustam. FIco contente de ter vindo, mas confesso que vinha mesmo para pedir solidariedade e quem me deu teu nome foi a Pitanguinha aí de cima.
É que eu estava praguejando por não saber colocar ficheiros de audio no blog e ela disse que tu sabes TUDO!!! e que eu devia te consultar. Assim.. cá estou... e se além das nuvens e encostas ouvires meu apelo, aparece lá no meu cantinho ou manda mail pra explicar. Tb podemos tentar um msn... mas eu queria muito... tb sou um pouco paciente... e se tiver que esperar, acho q aguento sem nenhum ataque histérico até amanhã...:)))
Brincadeira... mas aceito qq ajuda!
Beijinhos
E Feliz dia de Reis!
Isto, sim é melhor que qualquer novela e prende a malta a este espaço. A aventura é fantástica e eu fico à espera dos restantes episódios.
Mas que bela aventura! Em tempos idos também me dava a essas"guerras" tão saudáveis...E ainda há quem só ame dar passadas pelos corredores dos centros comerciais!! que pena!Realmente não saboreiam o melhor da vida...Força .Contem mais...
Ontem à tarde fomos às Ruínas Romanas mas o acesso estava fechado. Estou mandando um e-mail para explicar melhor o caso da Ida.
abraços e...que tarde, hein?
CMatos : prazer em conhecer ! venho aqui pedir-lhe uma breve lição sobre - como pôr música em blogs ? Se me puder ajudar ...
BlogAbraço
ida e isabel victor, espero que tenha ajudado...
OBRG CMatos !*
Vou experimentar ...
Ida : já tens BlogMusical ?
BlogAbraços
Matos tentei mandar-te um e-mail mas houve qualque erro. Podes mandar-me qualquer coisa para eu atualizar teu endereço?
Vejo que já respondeste a Ida.
No momento o meu blog está em pane e eu estou com vontade de chorar ou de dizer meia dúzia de coisas feias...muito feias!!!!
abraços
Este anonymous sou eu a Pitanga. Deve haver um fantasma a me infernizar a tarde e a senha não entra...#&%%
Olá Carlos! Bom ano para ti- cheio de saúde e alegria, paz e uns dinheiritos (já agora!)Espero que as festas tenham corrido bem!
Bjs Sofia
continuo a acompanhar ( e a invejar) a aventura.
Matos obrigada pela a atenção que deste a Ida. Hoje estou com problemas no IG e no blog. %&%#&%
abraços
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