O meu cantinho!...

Não sou Poeta, não sou Professor, não sou Engenheiro e muito menos Doutor. Sou alguém que aprendeu a ser o que é, porque um dia me disseram que na vida o que realmente importa é ser eu próprio, confiar nos sentimentos e respeitar o que nos rodeia, ...as pessoas e ...o Mundo!

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terça-feira, julho 13, 2010

Um Amor em Tempos de Guerra

“Um Amor em Tempos de Guerra” é o título de um excelente livro de Júlio Magalhães, que ao ler, me trouxe muitas recordações do tempo em que vivi em África.
Conta a história do amor entre dois jovens, nascidos e criados na mesma aldeia, a mesma onde o Salazar teve o seu berço, interrompido abruptamente pela guerra colonial, a alguns meses apenas do casamento. António parte para uma guerra que não compreendia, mas com a convicção de que iria honrar e defender o seu Portugal, tal como o seu avô em conflitos anteriores, deixando Amélia, a sua noiva, de coração apertado e angustiado. Ambos fizeram juras de amor, tendo o António prometido voltar para os braços da sua amada e Amélia esperar por ele o tempo que fosse necessário. Mas a vida dá muitas voltas, e ao fim de algum tempo em África por entre combates e cartas a Amélia, António depara-se com uma bela mestiça à qual poupou a vida num ataque a uma aldeia dos turras, que não lhe sai da cabeça.
Enceta então uma relação amorosa com Dulce, que serve de porto de abrigo durante aquele tempo confuso em que vive. Dela terá um filho, sem no entanto esquecer a sua Amélia que deixou em Portugal e para a qual continua prometer voltar. Mas ao fim de 3 anos de uma guerra sem sentido para ele, o seu pelotão cai numa emboscada e são todos mortos, todos menos ele que gravemente ferido é levado pelos turras e mantido em cativeiro durante longos anos, até ao fim da guerra sem que ninguém saiba dele.
Em Portugal é dado como morto, é feito um funeral em sua honra com um caixão vazio, e Amélia fica viúva sem nunca ter casado. É um tempo difícil para esta, que durante dois anos ainda espera por um milagre, sem que este se realize. Já professora decide então refazer a sua vida, entregar o enxoval preparado para o António à sua sogra, e casar com Osvaldo, um amigo de António que há muito a cortejava. Mas a sua vida revelar-se-á um calvário, pois um casamento sem amor é difícil de suportar.É então que numa nova reviravolta da vida, o António se consegue evadir andando perdido meses no mato, até que um velho amigo de guerra o encontra muito debilitado e o traz de novo para a vida.
Regressa a Portugal como havia prometido para os braços de Amélia, a fonte das energias que o manteve vivo, deixando Dulce e um filho já grande para trás. No entanto o mundo tinha mudado muito desde a sua partida para a guerra, e agora a sua Amélia estava casada. Ambos sabem o amor que apesar de tudo nutrem um pelo outro, e não conseguindo viver separados, é altura de completar a volta da vida fazendo com que os destinos se unam novamente, e agora para sempre. António, Amélia e o filho que entretanto é resgatado em África depois da morte da Dulce.

Durante a leitura deste livro, foram vários os episódios em que revi cenas e emoções antigas. À semelhança de António, também o Pedro (Ginga como carinhosamente o tratamos), vindo do mato, de meses e meses, anos talvez sem conviver com a civilização, chega a nossa casa completamente destroçado. Cabelo e barba enormes, muito debilitado fisicamente, já quase sem saber articular palavras em Português, e qualquer barulho, por mais pequeno que fosse o deixava aterrorizado. Teve praticamente de reaprender quase tudo. Também o meu tio Álvaro, comando nas forças especiais, traumatizado pela guerrilha com os turras, bastava que se abrisse uma garrafa de champanhe por exemplo, e logo ele se atirava para debaixo de uma mesa ou da cadeira mais próxima. Enfim, histórias e vivências que quem viveu toda esta época conturbada neste pequeno rectângulo do lado de cá, terá alguma dificuldade em compreender, até porque na altura a desinformação imperava, e o que passava para cá, era uma espécie de “mar de rosas”.

Aconselho vivamente a leitura deste livro, que nas palavras do autor é uma “longa notícia” mas que acaba por ser um belo romance.

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