O Atum.
Para começar teremos de recuar muitos anos, até à minha infância, e depois viajar com os tempos de volta. Cá vai:
Em criança, não se gosta de nada pelo simples facto de nunca se ter provado. Enquanto que umas coisas, porque cheiram bem ou são agradáveis à vista, nos apressamos a testar há outras que insistimos teimosamente em dizer que não gostamos mesmo sem as experimentar. Assim foi com o Atum. O tempo foi passando até que um dia (existe sempre um dia), quis o acaso, experimentei … e não soube mal de todo. Fui petiscando e apercebendo-me que, tal como em tudo o resto, existiam vários tipos, com vários sabores e formas, embalados de forma mais ou menos apelativa. No entanto tendemos sempre a ter um favorito e sem saber muito bem porquê o “Bom Petisco” foi ficando como o mais … digamos, apelativo. E assim foram passando os anos, sem dar conta, aumentando gradualmente o consumo, até que, numa determinada altura da vida, durante uns dias de férias passados com o meu irmão aconteceu! Éramos os dois péssimos cozinheiros (eu ainda o sou), e as refeições passaram a ser invariavelmente constituídas por Atum e salsichas, ora se comia Atum com salsicha, ora salsicha com Atum, até o meu organismo começar a dar de si. Um desarranjo intestinal brutal, e um enjoo completo a Atum provocaram um abrupto e radical corte. A reacção imediata, foi a completa repulsa ao dito, mas quando melhorei um pouco, veio aquela tentação de dar uma “trinca” principalmente ao ver o prazer no rosto dos outros ao comer … mas aí surge o fantasma da dor, do mal estar, e fui resistindo até que essa vontade desaparece-se por completo. E assim se passaram anos sem que este peixe tocasse nas minhas papilas gustativas.
Aos poucos os acontecimentos vão ficando perdidos nas profundezas das memórias e o organismo restabelece a normalidade, é nesta fase que uma vez aqui outra ali, aos poucos o Atum volta a entrar na minha cadeia de alimentação, mas agora sabendo os malefícios fico sempre de pé atrás, atento aos exageros e excessos que soam na minha mente, qual farol do passado.
É impressionante como teimosamente tendemos em esquecer aquele velho ditado que reza mais ou menos assim: