O meu cantinho!...

Não sou Poeta, não sou Professor, não sou Engenheiro e muito menos Doutor. Sou alguém que aprendeu a ser o que é, porque um dia me disseram que na vida o que realmente importa é ser eu próprio, confiar nos sentimentos e respeitar o que nos rodeia, ...as pessoas e ...o Mundo!

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sábado, junho 25, 2011

As alcunhas...

Um dia destes dei comigo a pensar nas pessoas que povoaram a minha criancice e juventude, alguns deles verdadeiros cromos da sua época. Com eles vieram também à superfície da memória as suas alcunhas e alguns episódios caricatos que presenciei. Como a cultura de um povo também se faz destas pequenas recordações, e também para que estes nomes e peripécias não se percam algures no passado, aqui ficam alguns dos mais carismáticos (pelo menos para mim):

* O Lauro, que apregoava constantemente que andava mal devido à sua “pulmónica”, não raras vezes trazia à cinta um “arranhadoiro” (um pequeno ramo de pinheiro com 3 ou 4 pinhas em cacho) e quando dormia ao relento fruto das bebedeiras não havia geada que entrasse com ele devido à aguardente;

*O Ti Zé Corneteiro ou Galizo, alguns anos o coveiro da freguesia, que numa ocasião na vareja da azeitona, não conseguindo encontrar maneira de chegar aos ramos pretendidos deixa escapar: “Isto é que é uma porra, eu não me ajeito…” pedindo uma pedra para colocar numa forcalha e assim se “ajeitar” melhor na Oliveira;

* O Ti Mário Bilhas, e os seus sonoros “desabafos intestinais” mesmo em plena missa, no coro da igreja (lugar reservado por excelência aos homens) fazendo-os troar de encontro ao banco;

* O Ti Picotas, que lavrou inúmeras vezes as vinhas da quinta do meu pai com a sua parelha de bois, e quando interpelado sobre a vida dizia invariavelmente: “É um estoiraço…”

* O Ti Pirunzinho, simpático idoso de estatura baixa e rosto castiço, com os seus cintos de cordel e que ao comentar a gastronomia da época, dizia: “Isto pra mim, só massa…”

* O Pilau, que era seu apanágio colocar a “fruta” à mostra quando encontrava uma donzela mais incauta, e que por várias vezes foi visto pelos telhados de Santiago a espreitar as senhoras em trajes menores;

* O Ti Helenas, cuja mão direita era “diferente” das outras por ter apenas o dedo polegar e o dedo médio, devido a um qualquer azar da vida;

* A Tia Alice Forneira, solteirona (tanto quanto sei) e sempre bem-disposta, pronta para uma boa risada e amiga de todos;

* O Ti Zé Merrota, dono de taberna famosa em Casal de Cima “O Merrota”;

* O Coca-Bichinhas, tanoeiro cá do burgo, que fez uma dorna ao meu pai e tantas vezes reparou as pipas das adegas locais, com os seus remendos de chapa e um preparado que só ele sabia fazer, tal “mestre cozinheiro” da tanoaria, mas que estava sempre à espreita na sua oficina com a cabeça de fora a ver quem ia e vinha;

* O Chicharro, taxista cá da terra à muitos anos, com o seu velho Mercedes preto e verde;

* As Senhoras do Correio, três irmãs solteironas e distintas que viviam numa das casas mais imponentes da actual Rua Principal de Santiago (hoje em ruínas e ao abandono) e que durante muito tempo tratavam da recolha e distribuição do correio, mas também o liam e escreviam aos analfabetos que a tão distintas senhoras recorriam;

Outros alcunhados apenas devido às profissões que exerciam ou locais onde habitavam: Henrique do Vale, Luísa do Santo, Manel Novo, Joaquim do Boco, Manel da Rua, Manel do Passal, Jaquim Santinho, Olinda do Correio (minha avó), Marzé Padeira (minha tia), Zézinho da Tapada Nova, Carlos do Bombo, Zé Pequenito, Armando da Taberna, Zé Sapateiro, Artur Carpinteiro, Maria Sardinheira, Alfredo Latoeiro…

E ainda: Miragaia, Toras, Tonoa, Tonão, TumTum, Maçónico, Conde, Piças, Avioneta, Àquêvê, Pinga, Lua Cheia, Cachinha, Pitóias, Alças, Zito, Piu, Moitão, Roscas, Manelão, Dezoito, Rei Preto, Guedes, Hitler, Presunto, Falcão, Rato, Cá Carriço, Negrito, Espanhol, Pucha, Ganso, Ginga, Careca …

Algumas destas alcunhas perduram através das gerações, outras perdem-se com a morte do seu “dono”, outras vão surgindo naturalmente devido a várias circunstâncias da vida. Grande parte dos alcunhados aqui descritos já partiram, outros continuam entre nós (espero não me levam a mal pela divulgação até porque as alcunhas em si não associadas à pessoa não as identifica).
Se conhecerem outras alcunhas da Freguesia de Santiago de Cassurrães e/ou histórias a elas associadas, dê-as a conhecer através de comentário, mas sem nunca personalizar. A cultura dos povos, não se faz apenas com cantares, danças, trajes, gastronomia, artefactos, monumentos ou tradições, mas também histórias, nomes e alcunhas.

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3 Comments:

At 29 junho, 2011, Blogger Pedro said...

Olá Carlos,
Mais alguns que eu tb conheci,
Ti Zé Galizo, Ti Careca

 
At 29 junho, 2011, Blogger CMatos said...

Obrigado Pedro, embora o "Galizo" seja outra alcunha de uma mesma pessoa que já referi como "Corneteiro" vou adicionar. Quanto ao "Careca" já não me lembrava dele...

 
At 19 agosto, 2011, Anonymous Anónimo said...

Primo faltou o Palhaço!:)

ricardo matos abraço

 

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