O meu cantinho!...

Não sou Poeta, não sou Professor, não sou Engenheiro e muito menos Doutor. Sou alguém que aprendeu a ser o que é, porque um dia me disseram que na vida o que realmente importa é ser eu próprio, confiar nos sentimentos e respeitar o que nos rodeia, ...as pessoas e ...o Mundo!

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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Estou triste...

A Boneca... Foto de CMatos ... é uma gatinha linda, que sabe compensar todos os sacrifícios que já fizemos por ela.
Das muitas provações por que já passou, a maior de todas, deixou-a cega e com uma deficiência grave numa das patas dianteiras. Ao longo do tempo habituou-se ás suas limitações e continuou a dar-nos o seu carinho. Para onde quer que eu vá, ela segue-me e fica sentada à minha espera. Ela já conhece a casa toda, e apesar de uns encontrões aqui e ali com uma porta ou um banco fora do sítio, “olha” para nós e desafia-nos para uma brincadeira. Quando está cansada, sabe que em frente à lareira está o seu cestinho para dormir. É linda ela…
Os arredores da casa também já fazem parte do seu espaço… de vez em quando deixamos que ela fique cá fora, porque sentimos que esse é o seu desejo, … e ela tem-se safado.
Ontem ao almoço cheguei a casa, e como de costume, espera-me à porta da Garagem, enrosca-se nas minhas pernas para me cumprimentar e eu retribuo-lhe uma festinha na cabeça como tanto gosta. Tem um pelo tão maciínho… antes de vir embora, vou à rua deitar os restos para os animais vadios que por ali passam, … ela como de costume segue-me os paços, … está sol, … quentinho, e ela deita-se num degrau da escada. Chamo-a, mas ela “olha” para mim e percebo que quer ficar por ali. Não é a 1ª vez, e sem dar conta despeço-me dela, fecho a porta e parto.
À noite, chego tarde a casa, o trabalho a isso me obrigou, a minha esposa e filho já lá estão… cumprimento-os, e fico a saber que a Boneca ainda não voltou… nada de especial, já tem acontecido antes… ela desorienta-se e fica à espera que a encontremos.
Saio para a noite, … e estranhamente guiado, depois de vários chamamentos sem resposta, encontro-a… a poucos metros de casa, num terreno recentemente arado, lá estava ela… deitada, à minha espera, aproximo-me, olho para ela… faço-lhe uma festinha na cabeça, como ela tanto gosta, … pego-lhe ao colo e carinhosamente levo-a dali.
Entro em casa, olho para o meu filho e para a minha mulher, … e não preciso de dizer nada…
A Boneca, tinha sido vencida… numa luta sem tréguas… e nós não estávamos lá, como ela sempre esteve…
Tinha sido vencida… pela Morte.
A Boneca… é especial!

sábado, fevereiro 11, 2006

Queimada Viva!

Foto da Capa do livro"Souad tinha dezassete anos e estava apaixonada. Na sua aldeia da Cisjordânia, como em tantas outras, o amor antes do casamento era sinónimo de morte.
Tendo ficado grávida, um cunhado é encarregado de executar a sentença: regá-la com gasolina e chegar-lhe fogo. Terrivelmente queimada, Souad sobrevive por milagre. No hospital, para onde a levam e onde se recusam a tratá-la, a própria mãe tenta assassiná-la.
Hoje, muitos anos depois, Souad decide falar em nome das mulheres que, por motivos idênticos aos seus, ainda arriscam a vida. Para o fazer, para contar ao mundo a barbaridade desta prática, ela corre diariamente sérios perigos, uma vez que o «atentado» à honra da sua família é um «crime» que ainda não prescreveu.
Um testemunho comovente e aterrador, mas também um apelo contra o silêncio que cobre o sofrimento e a morte de milhares de mulheres."


Este post é longo, mas por favor leiam até ao fim... ou então, leiam este livro.

Estou a ler este livro, arrepiante devo dizê-lo, que conta a história de uma jovem rapariga, igual a tantas outras, da Cisjordânia (e não só). Não tenho muitas palvras, para descrevê-lo, mas aqui deixo algumas passagens dele (só algumas).


"Sou uma rapariga, e uma rapariga … não deve erguer o olhar nem desviá-lo para a direita ou para a esquerda enquanto caminha, porque se os seus olhos se cruzam com os de um homem, toda a aldeia lhe chamará charmuta."

"Uma rapariga tem de estar casada para poder olhar em frente, entrar na loja do comerciante, depilar-se ou usar jóias. Quando uma rapariga ainda não casou, a partir dos catorze anos, como a minha mãe, a aldeia começa a troçar dela. Mas, para poder casar, uma rapariga tem de esperar pela sua vez na família. Primeiro a mais velha e depois as outras."

"…na minha aldeia nascer rapariga é maldição…"

"…o único sonho de liberdade é o casamento. Abandonar a casa do pai em troca da casa do marido e não voltar nunca mais, mesmo que seja espancada. Quando uma rapariga casada regressa à casa do pai é uma infâmia… e é dever da família levá-la de novo para o lar.
… no caminho, uma rapariga sozinha seria rapidamente assinalada, e a sua reputação e a honra da família destruídas."

"No banho …todas as raparigas se serviam da mesma água para se lavarem, apenas o meu irmão tinha o direito a água só para ele, e claro, o meu pai."

"Ela compra com o meu pai e dá um vestido às filhas. Quer se goste quer não temos de o usar… Ou era assim ou nada."


"…um tecido muito quente e que picava a pele. A gola era bastante alta e fechada… de mangas compridas. Muitas vezes o calor era sufocante, mas as mangas eram obrigatórias. Mostra uma nesga do braço ou de perna, e, pior ainda, um bocadinho do decote, era uma vergonha. Andávamos sempre descalças, nunca usávamos calçado salvo às vezes as mulheres casadas."

"Agarra-me pelos cabelos e arrasta-me pelo chão… bate-me enquanto estou de joelhos, puxa-me pela trança como se a quisesse arrancar e corta-a com as enormes tesouras da tosquia… gritar ou suplicar… só servirá para receber ainda mais pontapés…"

"Ele bate-nos com tanta força com a bengala que, às vezes, já nem consigo deitar-me, nem para a esquerda nem para a direita, por causa das dores… com cinto ou com bengala… éramos espancadas todos os dias. Um dia sem pancada não era normal."

"A lei dos homens era assim naquela aldeia. As raparigas e as mulheres eram com certeza espancadas todos os dias nas outras casas. Ouvíamos gritos aqui e ali, por isso era normal ser espancada… não havia outra forma de vida."

"O meu pai era o rei, o senhor todo-poderoso, aquele que possui, que decide, que bate e nos tortura… as suas mulheres fechadas, a quem trata pior que ao gado…
…o açúcar é precioso e caro, sei que se deixar cair uns grãos no chão, serei espancada…"

"Vejo a minha mãe deitada no chão em cima de uma pele de carneiro. Está a parir e a minha tia Salima está ao pé dela… Ouço gritos, os da minha mãe e os do bebé, e de repente a minha mãe pega na pele de carneiro e sufoca o bebé… vejo o bebé agitar-se debaixo da coberta e depois acabou. Não sei o que se passa em seguida… é só isso um medo terrível entorpece-me. Era uma menina que a minha mãe sufocava à nascença."

"A minha mãe é espancada muitas vezes como nós… às vezes tentava defender-nos quando ele batia com demasiada violência e então ele agredia-a, atirava-a ao chão, arrastava-a pelos cabelos… a nossa vida quotidiana era uma morte possível, dia após dia…"


Só quero acrescentar que o livro tem cerca de 200 páginas, e ainda só vou na página 25... Não acredito que haja algum Deus no Mundo que aceite, ensine ou autorize isto. Pelo menos Aquele em que acredito não!

sábado, fevereiro 04, 2006

Que Saudades!

Esta história começa na década de 50.
Um homem, na busca de uma vida melhor que o Portugal de então teimava em não lhe dar, decide partir, emigrar. Enche uma mala de sonhos, vontade e muito trabalho e ruma a África. O seu “porto” de destino é Moçambique, passa pela capital Maputo (hoje Lourenço Marques) mas estava destinado que iria fixar-se numa cidade cujo nome, curiosamente, deve à Região de Portugal de onde ele é originário, as Beiras. Com a ajuda de familiares e amigos, fixa-se na cidade da Beira e logo começa a trabalhar. Em Portugal fica a sua namorada, que mais tarde decide casar-se… por procuração, como era habitual, sendo o seu sogro a levá-la ao altar. Esse homem agora com a vida estabilizada chama a sua, agora esposa, e após uma longa viagem de barco, dá-se o reencontro. Arranjam casa própria e, consumado o casamento, já nos anos 60, nasce o 1º filho. Também eles ajudam agora irmãos, irmãs e amigos que no seu lar procuram o abrigo e o começo de uma nova vida. 3 Anos mais tarde vem o 2º filho e é nesse preciso momento que… começa a minha história.
A vida na bela cidade decorria sem sobressaltos, a família à minha volta aumentava, chegavam e partiam tios e amigos da “longínqua” guerra, vivia-se numa cidade próspera, onde todos se conheciam e se ajudavam. Eu ao crescer ia amando cada vez mais tudo aquilo, até que… o ano de 75 chegou depressa de mais. E com ele, infelizmente, tudo foi interrompido, tudo acabou. A estabilidade, a segurança, a prosperidade, mais tarde o trabalho, … enfim o Paraíso. De repente dei comigo numa aldeia escura, velha, no Portugal profundo onde quase ninguém conhecia e onde quase ninguém nos queria…

Hoje amo também Santiago de Cassurrães, sinto-me bem em Portugal, mas… quando vejo ou oiço falar do “Esturro”, do “Maquinino”, da “Munhava”, da “Pontagea”, do “cais K” no porto, da “praia das Palmeiras”, do rio “Chiveve”, da "Gorongoza" e de tantos outros lugares que preencheram esses tempos, a minha alma “dispara” e um turbilhão de recordações e memórias, tolda-me a mente lançando nos meus olhos uma torrente de saudade.

Mais tarde contarei aqui, pequenas histórias da minha infância na Beira, para que estas vivam mais tempo e perdurem para além da minha existência, mas por agora queria partilhar convosco isto…

Imagem da Net

(O Grande Hotel, Antes e Agora)

Imagem da Net
Imagem da Net

(A Piscina, Antes e Agora)

Imagem da Net
Estas são fotos do antes (nos tempos áureos) e do depois (de 75). Encontrei-as, porque o meu irmão, agora também emigrado, mas partilhando esta saudade pelas “raízes” me enviou algumas imagens para mostrar ao nosso pai (o tal homem). E ao vê-las, deu-se aquele “disparo” que me fez escarafunchar na Net e chegar até estas… e muitas outras.
Eu, tal como a maior parte dos imigrantes e retornados de África, acalento um sonho,… o sonho de LÁ VOLTAR, e agora mais que nunca…
Que SAUDADES!

Nota – Para verem mais, cliquem em http://www.xirico.com/ e se souberam de outros sítios com conteúdo sobre a Beira ou Vila Pery (hoje Chimoio), por favor digam. Obrigado.